Como a Enfermagem Ecológica, da teorista Rosalda Paim, é aplicável às Infecções Hospitalares
Desde 1967, Rosalda Paim se insurgiu com o fato de que as teorias até então existentes não eram passíveis de sua aplicação em ambiente hospitalar e, em outras áreas de atuação do enfermeiro, mas simplesmente utilizadas em elocubrações acadêmicas, apenas à nível de salas de aula e de congressos, tornando os egressos das escolas de enfermagem, de cursos de especializações e, mesmo mestres e doutores, incapazes de aplicá-las na prática profissional, o que infelizmente ainda ocorre, até os dias atuais.
A autora, além de transportar paras as salas de aulas de graduação, de especialização, de mestrado e de doutorado, os conhecimentos resultantes de suas observações, a partir da sua vivência na enfermaria, no centro de saúde, no ambnlatório e, na comunidade (visitas domiciliares e criação de postos avançados de atendimento, em Niterói, transformadas posteiormente em Unidades de Atendimento), Rosalda teorizou os procedimentos habituais do enfermeiro, com base em fundamentes hauridos em outras fontes do saber, mas trazidos em linguagem da enfermagem e, passíveis de aplicação na prática diária.
Entre os avanços da sua teoria, a autora, introduziu a Ecologia na enfermagem, instaurando uma "enfermagem ecológica", cujas premissas são apresentadas. a seguir:
Todo sistema só pode existir no ambiente.
Não existe sistema sem ambiente.
A única exceção, o único sistema sem ambiente é o Universo, a menos que se o considere finito.
Os sistemas abertos se relacionam com o respectivo ambiente, afetando-se mutuamente.
A totalidade das relações entre um sistema e o seu ambiente podem ser sintetizadas como um conjunto de trocas que se processam entre ambos.
Por sua vez, este conjunto de trocas pode ser traduzido e sintetizado como um continuo e permanente intercâmbio de "matéria energia e informações".
O ser humano, como sistema aberto, intercambia matéria, energia e informações com o seu ambiente.
Ao sentir a necessidade da implantação de uma metodologia científica nas atividades de enfermagem e do enfermeiro e, constatar que o reducionismo que impregnava (e ainda persiste) as teorias de enfermagem, até então existentes, constituía um fator impediente para a sua consecução, Rosalda Paim, construiu uma teoria de caráter mais abrangente, através do qual, a função do enfermeiro não se restringe a prestar cuidados ao corpo do doente, alcançando, também, o ambiente em que este se insere, acrescidas das relações que ocorrem entre um e outro, constituindo-se a enfermagem ecológica.
Como já nos referimos, tais relações se traduzem, necessariamente, em trocas entre o cliente e o seu entorno.
Verifica-se que todas, sem exceção alguma, as atividades fisiológicas podem ser traduzidas como intercâmbio de "matéria, energia e informações", como ocorre entre as células e seu ambiente (os espaços intercelulares), os órgãos e seu ambiente (constituido por outros órgãos, aparelhos e sistemas) e, do conjunto do organismo com o ambiente que o envolve.
Ao mesmo tempo, partiu-se da premissa de que o ser humano constitui um "sistema".
Se definirmos sistema como "um conjunto de partes interligadas e interrelacionadas, capazes de operar conjuntamente, no sentido da consecução de um um objetivo pré-determinado", vericamos que o organismo humano satisfaz plenamente a definição de sistema, inclusive porque opera segundo a programação genética, um conjunto de informações codificadas em linguagem química, expressa por uma sequência de ácidos nucleicos, contidos no seu genôma, sofrendo desde o espaço uterino, até a morte, a influência do ambiente que o envolve.
Rosalda transportou a noção de sistema para o ambiente hospitalar, ao qual se demonstrou à exaustão que não se comporta como um sistema, mas sim como um "não sistema", em que a rotina das atividades hospitalares se caracterizavam pela falta de integração da equipe multiprofissional de saúde e conseqüente dispersão dos seus esforços, comprometendo a segurança do cliente, o que tornava exigível a adoção de um mecanismo integrador, ao mesmo tempo em se evidenciou que, pelas características dos seus papeis profissionais, caberia ao enfermeiro a tarefa de integração das relações do paciente com o seu entorno, como já se disse, sintetizadas como um conjunto de "trocas de matéria, energia e informações entre ambos."
Diante do exposto, foi estabelecido, entre os postulados da Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética, o seguinte:
Princípio de Administração das Trocas
No sistema de saúde, a coordenação e a integração do processo de compatibilização dos intercâmbios de "matéria, energia e informações" que se realizam entre o ser humano e o ambiente respectivo, constitui atribuição, predominantemente, do enfermeiro.
Vejamos, agora, a aplicabilidade do Princípio de Administração das Trocas, da Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética de Enfermagem, no caso específico das Infecções Hospitalizares que constitui um fenômeno endêmico em nossos hospitais, com o que infelizmente já se acostumou, mas eis que irrompe um surto epidêmico no Hospital de Bonsucesso, fato que vem caracterizar um evidente fracasso do processo de administração das trocas entre os doentes e o ambiente,
possibilitando a invasão de microorganismos patogênicos no corpo do paciente hospitalizado (aporte de matéria), por inadequada atuação sobre o ambiente hospitalar, resultante da não aplicação do Princípio de Adequação do Ambiente, da referida teoria.
Aqui abro um parêntese para expressar que o Hospital de Bonsucesso é uma instituição muito cara e saudosa, pois ali vivi um ano inteiro, dia e noite, em 1972, realizando meu internato, como acadêmico do sexto ano de medicina, sob a orientação dos Drs. Alvariz, Sergio Miranda, da Dra Dayse e outro Dr. Sérgio, além de vários preceptores e prezados amigos, agora, com tristeza, tomei conheciment9o de que esta "residência" querida se acha assolada por uma epidemia de infecções hospitalares, inclusive com vítimas fatais.
Vejamos, a seguir, o que postula o:
Princípio de Adequação do Ambiente
Com o propósito de facilitar o equilíbrio das trocas de matéria, energia e informações entre o ser humano e o ambiente, as ações de enfermagem se exercem, também, no sentido de ajustar o meio às necessidades das pessoas.
Portanto, o enfermeiro, além de exercer suas ações no corpo do paciente (sistema humano), atua, simultaneamente (segundo o Princípio das Aões Simultâneas, da mesma teoria), também, sobre o ambiente em que o mesmo se acha inserido.
Corolários:
A elaboração de uma Lei Estadual sobre a criação de Comissões de Infecção Hospitalar é coerente com o Princípio de Adequação do Ambiente da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, prescrevendo que os cuidados do enfermeiro transcendem o corpo do doente, para atingir o ambiente, o que caracteriza a enfermagem ecológica, proposta por Rosalda Paim.
A abrangência da teoria e a postulação de uma visão sistêmica do ser humano, da enfermagem e do ambiente, justificam a designação de sistêmica, enquanto o seu alicerce no funcionamento cibernético do organismo, dotado de inúmeros mecanismos de "feedback", justificam o advento de uma enfermagem cibernética.
Os Princípios de Administração das Trocas e o de Adequação do Ambiente, constitui uma decorrencia do:
Princípio das Ações Simultâneas
A enfermagem e o enfermeiro devem, sempre, cuidar do corpo da pessoa humana e, simultaneamente, efetuar a adequação do seu ambiente imediato. a fim de facilitar o processo de trocas de "matéria, energia e informações" entre ambos.
Corolários:
Os princípios mencionados e, seus corolários, caracterizam a Enfermagem Ecológica, expressa na Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética, de Rosalda Paim, consubstanciada no
Princípio da Enfermagem Ecológica
O ser humano e o ambiente correspondem, cada qual, a um sistema, afetando-se reciprocamente, através de um processo contínuo e permanente de trocas de "materia, energia e informações" e formam, em conjunto, um sistema misto (sistema homem/ambiente) que a enfermagem não pode, nunca, abordar de maneira dissociada.
A motivo que conduziu à publicação desta postagem, foi o "gancho", infelizmente, proporcionado pela matéria seguinte:
Superbactéria já contaminou pelo menos 40 pessoas no HGB
Flávia Junqueira e Gabriela Moreira - ExtraRIO - Laudos de exames laboratoriais feitos em pacientes do Hospital Geral de Bonsucesso, aos quais o EXTRA teve acesso, revelam que a bactéria Enterococcus faecium contaminou, pelo menos, 40 pessoas. O número pode ser ainda maior, já que os nomes constam de análise feita somente entre 1º e 10 de outubro. Na terça-feira, uma paciente de 15 anos internada no CTI com meningite e contaminada pela superbactéria morreu.
Documentos do hospital também mostram que, em setembro do ano passado, pelo menos três pacientes já haviam sido identificados como portadores da bactéria. A Enterococcus faecium é resistente ao antibiótico vancomicina, um dos mais fortes no tratamento de infecções bacterianas. A identificação dos últimos casos de contaminação levou o HGB a fechar a emergência na última quinta-feira .
" Chegamos a ter um total de 29, mas muitos já receberam alta "
- Em momento algum tivemos 40 pacientes. Chegamos a ter um total de 29, mas muitos já receberam alta. No momento, tenho 12 contaminados no quinto andar, quatro no CTI e outros quatro com fortes suspeitas, na emergência. Todos estão isolados - afirmou Sandra.
Você pode ver a reportagem completa e a reprodução dos documentos que comprovam a contaminação na edição do jornal EXTRA desta quarta-feira.
Fonte: Extra Globo
http://extra.globo.com/saude/materias/2007/10/17/298182746.asp
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