* Milma Lannes Duarte de Souza
A ilustre mestra e querida amiga Rosalda Paim, que tanto tem honrado a Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense através de sua luta em prol da educação e do crescimento da enfermagem brasileira, vem oferecer mais este trabalho, uma versão mais elaborada da sua Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem.
Esta edição é enriquecida de informações atualizadas, apresentadas de modo vivo, conciso e em linguagem acessível, além de oferecer à Enfermagem, um novo discurso, peculiar, característico.
Rosalda afirma que para se alçar à condição de ciência, a Enfermagem precisa adotar um sistema referencial próprio e, por isso, resolveu promover incessantes estudos no sentido de ser encontrado um paradigma para a mesma, construindo a teoria referida.
A autora postula que, apoiado na Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética, o enfermeiro pode exercer, em toda a plenitude, sua prática social característica, desempenhando melhor seu papel profissional de "Assistir" e "Cuidar" do ser humano, em sua integralidade e inserido em seu contexto ecológico, abrangendo todos os estágios do ciclo vital, inclusive o instante da morte, transcendendo-a para alcançar o momento pós-morte imediato, como aspecto dos Princípios da Extrapolação do Ciclo Vital e de Adequação do Ambiente, ambos da sua teoria.
___________________________________________________* Enfermeira Sanitarista - Professora - Ex-Diretora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense
Rosalda apresenta uma teoria que se fundamenta em uma concepção sistêmica, orgânica e dinâmica do universo, da vida, do ser humano, da enfermagem, da saúde e da sociedade - a abordagem sistêmico-ecológico-cibernética - de caráter holístico, a qual corresponde, na realidade, a uma verdadeira cosmovisão, na qual adota, como paradigma, o modelo de organização dos sistemas vivos e dos ecossistemas naturais, em contraposição ao reducionismo e a fragmentaridade da metodologia cartesiana-newtoniana, de cunho mecanicista e analítico, ainda vigente, sobretudo, na área de saúde.
Rosalda Paim, Doutora em Enfermagem, professora titular, agora visitante, da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora, com fundamentos nestas idéias e na prática profissional, vem construindo a Teoria Sistêmica Ecológica Cibaernética, publicada em 2a. Edição, e que, desde l974, em sua Tese de Livre-docência preconizava idéias de totalidade, de abrangência, de síntese e de globalidade, hoje corroboradas pelo processo de globalização planetária.
A teoria proposta enfatiza a importância do estudo das relações do ser humano com o ambiente, na prática da enfermagem e, a necessidade do enfermeiro promover, preservar e restaurar o equilíbrio, agindo concomitantemente sobre o meio interno (organismo humano) e o meio externo (ambiente, integrado por tudo que está fora do seu corpo, ou seja, tudo que o cerca).
Sua teoria guarda coerência com o pensamento científico contemporâneo, tendo sido construída numa linha de multirreferencialidade, interdisciplinaridade, panfrontalidade e de transdisciplinaridade, idéias que passam a orientar os rumos que começam a ser trilhados pela Universidade Brasileira.
A Doutora Rosalda foi feliz ao utilizar o modelo dos sistemas auto-organizadores e auto-reguladores, como é o caso dos organismos vivos e os ecossistemas naturais e, da própria estrutura do cérebro humano e do funcionamento da consciência, para focalizar o sistema de enfermagem (cujos metassistemas são o sistema de saúde e o sistema social), considerando estes, também como "organismos vivos" e, utilizando o próprio cérebro do enfermeiro como dispositivo organizador, integrador e regulador (“feedback”) do processo assistencial, de acordo com o "Princípio do Papel Integrador", atuando, ao mesmo tempo, sobre o sistema humano e o ambiente (Princípio das Ações Simultâneas e de Adequaçlão do Ambiente).
Rosalda introduziu o dispositsivo cibernético de “feedback”, na teorização e no processo de enfermagem, idealizando o "Modelo Sistêmico Cibernético de Processo de Enfermagem”, o qual consta de outra publicação.
A autora diz que “na enfermagem sistemico-ecológica-cibernética, por isso holística, têm importância definida, a consciência, a presença, o olhar, a fala, as mãos, os gestos, o toque e outros meios de expressão corporal, a utilização dos diversos sistemas de linguagem e de trocas de informações - processo de comunicação, - bem como o emprego do método científico, de teorias e do processo de enfermagem, de princípios científicos, da técnica, das destrezas e habilidades, além da utilização dos demais instrumentos, devendo ser as ações de enfermagem direcionadas, concomitantemente, para o espaço corporal (superfície externa e meio intracorpóreo) e, para o ambiente extracorpóreo do ser humano, objetivando efetuar a identificação, em ambos, dos estados de homeostasia ou de desvios, os quais expressam a resultante das ações conflitantes (dialéticas) entre os mecanismos entrópicos e negentrópicos, atuantes no organismo humano”.
Nesta ótica, se considera a saúde como um estado de equilíbrio do constante e permanente processo de trocas de matéria, energia e informações entre o sistema humano e seu ambiente e, vê a doença, como desvio do equilíbrio desse processo (uma intercorrência ao longo do “continum” vida), buscando o enfermeiro, a promoção, a manutenção e a restauração da homeostasia através do emprego de processos de administração (planejamento, organização, coordenação, integração, controle, avaliação e reajuste ou (“feedback”) das referidas trocas de matéria, energia e informações entre o homem e o seu ecossistema”.
Por todas as qualidades que se encontram nesta publicação, congratulo-me com a autora e amiga pelo seu esforço e constante preocupação com o desenvolvimento científico da profissão.
A nossa vivência e a troca de experiências nestes muitos anos de vida profissional me fazem reconhecer a sua consciência de responsabilidade e uma grande dose de ousadia que sempre permeou a sua conduta, ao oferecer mais esta valiosa contribuição, em assunto muito polêmico da enfermagem, nestes dias tão difíceis para os seus profissionais, resultantes das incertezas visualizadas no contexto sócio-econômico e político que atravessamos.
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